quarta-feira, 7 de abril de 2010

O melhor que se pode fazer nas férias

Onze e meia da manhã, como é que tinha dormido tanto? Normalmente levantava-se as nove e meia. Olhou para o tecto, em redor e novamente para o relógio. Não, não estava a sonhar, estava no seu quarto e tinha mesmo dormido mais que o normal. Não estava a sonhar agora e ontem a noite será que tinha sido um sonho ou tinha mesmo ficado horas deitada no braço do Filipe a ver os céu estrelado e a conversar?

Bia, lembrava-se de tudo ao mais ínfimo pormenor: do som do coração do Filipe, da sua voz, do seu cheiro e do toque da sua mão no seu ombro… — Pois, não pode ter sido um sonho, se não, não me lembrava de tanta coisa. Espera lá, mas porque é que me lembro destes pormenores todos? — Depois de algum tempo a olhar para o tecto e a pensar, apercebeu-se de que tinha estado a falar sozinha e de que já tinha passado mais meia hora. Tinha mesmo de se levantar, era um desperdício tanto tempo na cama.

Depois do almoço, e de ter arrumado tudo (sim a mãe da Bia é bastante exigente com tudo o que diz respeito à arrumação, a cama tem de ser feita sem nenhuma ruga na colcha!) era altura de se deitar no seu banco de baloiço a ler. Nada podia ser melhor que um dia de sol, nas férias de verão, passado no jardim a ler…

— Olá!— Interrompia o Filipe com o seu sorriso os pensamentos de Bia — Que estás a ler?
— Ah! Olá! Hm… é só mais um romance. Chama-se Muito Valentine, já estou quase no fim. É muito giro, conta a historia de três gerações de uma família Italiana a viver em Nova York, que tem uma loja que faz sapatos, e a personagem principal é a neta que está a descobrir que também gosta de fazer sapatos e…

Enquanto a Bia relatava entusiasmadamente todo o enredo do livro quase de um fôlego só, já o Filipe se tinha perdido e há muito deixado de ouvir, estava encantado só com o som da voz de Bia. Desde há muitos anos que se encantava com as historias dos livros dela, mas ultimamente era mais do que isso, era como se um feitiço o levasse a querer ficar horas com ela.

O dia de Filipe tinha começado umas horas mais cedo que o de Bia, mas foi em quase tudo idêntico. No entanto, havia aquela pequenina coisa, aquele… como lhe chamar? Aquele “bichinho” seu cérebro sempre a sussurrar-lhe ao ouvido: O que estará a Bia a fazer? Gostaste muito de estar com ela ontem, não foi? Quando é que vais estar com ela outra vez? Não tens nada para fazer porque é que não vais lá?… O Bichinho foi tão insistente que quando se apercebeu estava a fazer-lhe a vontade, e foi assim que foi ali parar. Entretanto, tinha-se sentado ao seu lado no banco de baloiço de padrão florido já desbotado pelo sol, que se encontrava no jardim das traseiras da casa da Bia desde que se conseguia lembrar.

— … E agora estão em Itália a comprar os materiais para fazer o sapato que ela desenhou para o concurso. Não é gira a história?
— Hã? O quê? Ah! Pois a história é muito gira sim.
— Pois, pois… já vi que estive a falar para o boneco! Não ouviste metade do que eu disse! Afinal, estavas a pensar em quê?  
— Eu? Aaa… Estava a pensar que, apesar da historia ser gira, é um desperdício estares aqui deitada a leres, quando está este sol, mesmo bom para um passeio e uns mergulhos na praia. Que me dizes? — Respondeu atrapalhadamente o Filipe ainda meio perdido no feitiço.
— Hm… Está bem, deixa-me só ir lá dentro vestir o bikini. — A Bia estava prestes a descobrir que talvez sempre houvesse algo melhor para fazer num dia de Verão, que ficar deitada a ler.

Longas caminhadas e mil e um mergulhos depois, e já eram nove horas, o dia tinha passado a correr e nenhum dos dois tinha reparado. Correr, rir, chapinhar ao longo de toda uma tarde de praia cansa e por isso agora estavam os dois sentados na areia a conversar sobre tudo,  sobre nada, sobre qualquer coisa, era assim desde que se lembravam, havia sempre tema de conversa. Algures no meio da conversa, distraidamente a Bia olha para o relógio e dá um salto de susto.

— O que foi? — assustou-se também o Filipe.
— Já são nove horas! As nossas mães vão se passar, temos de ir para casa jantar! Eu nem disse para onde íamos!

Continua…

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