terça-feira, 21 de abril de 2009

Não gosto! Não gosto e não gosto!!

Ontem, foi o primeiro dia da Experiência Pedagógica, na área de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, o que no meu caso significa 3 dias num Serviço de psicogeriatria de uma casa de saúde mental.

Eu desde sempre que achei que não ia gostar de psiquiatria, ontem a ideia reforçou-se. Depois de uma hora no serviço, já só me apetecia gritar: “Tirem-me daqui!!!”. Eram só senhores velhinhos, a babarem-se, a rodearem-nos e a olharem para nós, com aqueles olhos parados… Isto para não falar, de um senhor que se fixou em nós, o dia todo, e passou a vida a perguntar-nos o nome e a baralha-lo, já irritava! Mas  também,  quando o acertou e gritou do fundo do corredor “onde está a menina Saaaaraaa!!”, não achei muita piada…foi mais: Medo!!

Hoje, a coisa já correu melhorzinho e até já achei os senhores todos muito queridos e não houve nenhum que se passasse, porém, mesmo assim…

EZQUIZO

Bem, mas isto tudo se deve a uma coisa, ao meu “medo involuntário” de doenças mentais, eu não tenho medo dos doentes mentais (vá, um bocadinho só, talvez, quando eles vem direitos a nós para bater ou com aqueles olhos…) eu tenho é medo das doenças deles, dos mundos onde vivem. Com a minha mãe e mais algumas pessoas da família com depressão, eu sei mais ou menos o que é viver nesse mundo e tenho medo de algum dia me perder por lá… :S

 

nota: Nem tudo é mau, também tem lá aqueles “maluquinhos” engraçados: que dizem bom dia mesmo de noite ou que passam a vida a correr de um lado para o outro… e as pessoas que trabalham lá, são todas muito simpáticas (e giro cof cof)

5 comentários:

Cat disse...

Oh, não gostaste! Mas também tens de pensar que a Psicogeriatria é muito diferente da Psiquiatria (geral). Na psicogeriatria devem ser maioritariamente demencias, Alzheimers..., não?
Uma das coisas que mais me "assusta" - mas que de assustador não tem nada - é a lentificação (psicologica já nem digo nada) mas motora, de que falaste... Mexem-se tão devagarinho, desviam os olhos tão devagarinho, andam tão devagarinho...! :P

Pensa que pronto, é uma experiência. E as exp são sempre boas, qnt mais não seja para saberes que não é o que queres.

Boa sorte :)

entremares disse...

Pronto, confesso... este post apanhou-me desprevenido.
Explicando: Quando penso nesse lugar onde estás ( lendo como o descreveste ), o espírito começa logo a exagerar, o que é um problema. Lembro-me logo dos filmes sobre o assunto ( exagerados ou não ) e as imagens do “Voando sobre um ninho de Cucos”, “ Frances” ou “Vestida para matar” aparecem-me logo à frente, compondo a história. Ou seja, não tem graça nenhuma.
Mas a verdade é que desconheço esse mundo por completo... e habitualmente, temos medo de tudo o que desconhecemos, não é ?
Mas tenho uma pergunta: Que tipo de formação, de preparação, se pode dar a uma pessoa... que a faça “aguentar” dias inteiros a conviver com situações ... no mínimo complicadas ? Ou não há formação nenhuma, e atiram-te assim às “feras” ?

PS: O “feras” é só uma força de expressão. Quem sou eu para catalogar o que não conheço ?

Menina do Mar disse...

Cat:
Tens razão em psicogeriatria tem alguns Alzheimers e demências, mas a maioria tem psicoses e esquizofrenia (que é a patologia que mais me assusta). Mas tens razão, todos os estágios são oportunidades para aprendemos, nem que seja para aprendermos que esta não é a área que queremos. ;)

Entremares:
Assim como tu, quando penso neste lugar, a minha mente voa para aquilo que conhece dos filmes e etc, e é mesmo para desconstruir estes estigmas, que temos primeiro esta experiência, antes de dar a teoria. É engraçado teres falado do "Voando sobre um ninho de cucos", porque noutro dia os meus pais disseram-me que era um filme que devia ver, que agora era a altura certa. Acho que vou mesmo ver. ;) O que me disseram hoje é que nem com toda a teoria que vamos dar, vamos saber como lidar com pessoas com estes problemas, que isso só se aprende com a prática...vamos ver.

Rita disse...

Hum...pensa que, pelo menos, não tiveste como 1ª experiência segurar uma senhora para a ECT :)
Foi deveras bonito. No 1º dia faz impressão, mas depois habituamo-nos. Lá na CSI as senhoras gostam demais de beijinhos, mas são todas queridas.

João disse...

Bem eu tive uma senhora idosa a assediar-me a andar atrás de mim no primeiro dia lool.E lembro-me de ter visto os enfermeiros e pensar que eles só falavam com os utentes e pareciam não fazer nada. mas depois de realizar as cadeiras na Faculdade e voltar lá a fazer o Ensino clínico apercebi-me que a realidade era muito diferente e que faziam coisas incríveis! Esse estágio deixou-me e à maior parte dos meus colegas um legado que ficou para sempre porque tanto o mobilizamos para nos relacionarmos com os utentes e avaliarmos as suas necessidades, como o mobilizamos para nos compreendermos a nós e aos que nos rodeiam e percebermos algumas das nossas próprias necessidades e defeitos.
Nesses meses de estágio (dois não é?) desenvolvi a minha capacidade de avaliar factores de stress intra-, inter- e extrapessoais, recursos internos e externos, outros mecanismos de coping, capacidade de comunicação , relação de ajuda,etc. Percebi muito da minha personalidade,experiências, de como sou , de como são os que me rodeiam e de como e porque me dou de determinada maneira com eles. Ou seja , aprendi "muito do meu mundo"! Eu estive na Ajuda, no serviço de internamento de agudos e confesso que me atrai mais que um serviço de Psicogeriatria (embora psicoses e esquizofrenias seja do mais "interessante- em geral para "leigos" como nós- que se possa intervir") mas acredito que há sempre princípios e experiências comuns a todas as "sub-áreas" ou realidades diferentes desta vertente da prestação de cuidados. Acredito que ainda vais ver muitas coisas com "outros olhos"! O que é normal porque a saúde mental é um oceano tão grande e em que as ciências exactas têm tão pouco peso que só temos um "lamiré" e claro nunca seria possível ir para um estágio "preparado". O que não significa que tenhas de gostar da área, logicamente;)Desfruta destes dias!bjsn*

p.s - e involuntariamente estigmatizamos bastante.Também melhoramos nesse aspecto!


Relativamente à sua pergunta entremares, se me permite opinar, a formação que se possa dar a uma pessoa que vai mergulhar num "mundo destes" é bastante subjectiva. Em enfermagem é costume darem-nos conhecimentos de fisiopatologia, terapêutica,algumas técnicas comunicacionais,ética etc. Nesta área a comunicação e a relação que se estabelece entre os profissionais de saúde e o utente é a nossa melhor "arma" (e em enfermagem é sempre o cerne da ciência), porque cada pessoa vive a doença à sua maneira, cada doença é "distorcida" pela própria personalidade de cada um, por vezes os sintomas variam tanto que apenas há pessoas que têm diagnósticos interrogados há anos e anos. E por tudo isso a medicação convencional não resulta de modo tão equacional como noutras áreas: um fármaco eficaz numa pessoa pode ser "água" para outras ou não ter qualquer efeito. Muitas vezes os electroterapia é a intervenção terapêutica mais eficaz e desconhece-se porquê. Portanto o modelo bio-médico tem pouca força na área da saúde mental e a base é a relação com utente; a formação a dar é sempre subjectiva porque envolve sempre interpretação de duas pessoas pelo menos. No caso dos estudantes de enfermagem, muita da nossa formação é dada no sentido de desenvolvermos a nossa capacidade de avaliar as necessidades da pessoa e de comunicarmos com ela, aspectos que começam a desenvolver-se logo a partir do 1º ano, sendo uma das razões que temos estágios ao longo do curso. Portanto é difícil estarmos minimamente preparados para pratica nesta área, porque muito do que aprendemos é com as nossas experiências,experiência dos outros profissionais de saúde, experiências dos utentes e das suas famílias/amigos. Penso que o que aprendemos na teoria é vital para interpretarmos o que encontramos na prática, mas as nossas necessidades variam muito conforme as experiências. Temos também reuniões frequentes para debater e partilhar com os colegas e professores tudo o que acharmos pertinentes. Partilhamos e investigamos desde o princípio do curso porque para conseguirmos sermos enfermeiros é necessário ganhar uma sensibilidade para o Outro e conhecermo-nos bem a nós mesmos. E sabemos sempre que sabemos pouco;) Temos também acesso a um gabinete de psicologia se sentirmos necessário, mas na minha opinião geralmente conseguimos passar as nossas piores fases ou situações com as reflexões e apoios constantes a que estamos sujeitos.