terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

S. Valentim

“Meu amor, escrevo-te para te dizer que deixaste cá os teus brincos. Estão no quarto, do lado onde pões sempre as tuas coisas e te vais esquecendo delas à medida que sais com aquela pressa. Sempre com pressa. Meu amor, tenho ciúmes desse teu emprego, dessa tua vida, porque ela me tira de ti mais que nenhuma outra coisa. Gostava que desistisses desse teu emprego meu amor mais lindo, para eu desistir também do meu e assumirmos que a nossa profissão é amarmo-nos como se fossemos um empresa dessa que para ai andam a fechar e a despedir gente.

Em vez de pegarmos ao emprego, devíamos pegar ao amor. Numa fase inicial amávamo-nos das 9 às 5. E depois daí, saíamos fora do expediente e dedicávamo-nos às horas extraordinárias que desde sempre foram mais lucrativas. Meu amor, são tão extraordinárias as horas que passamos juntos que por vezes penso que deveríamos abandonar as de serviço. Nunca mais das 9 às 5, meu amor. nunca mais meu amor só meu. Só extraordinárias é que faremos. Meu amor, estivemos tanto tempo juntos desta vez que quero que saibas que todo eu cheiro a ti. O meu quarto cheira a ti. A minha cama, a minha roupa, esta carta, o teu cheiro está em toda a parte como se fosse um pólen poderoso que anuncia a Primavera.

Meu amor, nunca mais me sais desta cama, vem para aqui de novo, estávamos tão bem a ouvir rádio, tão quentes aqui dentro, quando saíste juro que foi igualito a teres aberto uma janela do carro naqueles dias de geada em Bragança. Meu amor, não me voltes a sair assim da cama. Esquece lá o emprego, a vida lá fora, o que dizem os jornais, porque nada é mais importante do que este quente da cama, ouvir a vizinha do lá a cantar Roberto Carlos sem que esta nos ouça a rir, os carro a passarem na rua com velocidades de arrepiar um qualquer radar.

Meu amor, não me voltes a sair da cama tão depressa, porque um dia destes agarro-me a ti e juro que vou encavalitado em ti até esse maldito emprego, de pijama e tudo, só para teres vergonha e não me voltares a sair desta cama.”

Fernando Alvim, Pegar ao Amor in Metro

 

Agora é a minha vez de dizer meu amor, vamos assumir que a  nossa profissão é amarmo-nos, vamos fugir daqui, vamos saltar já para Março. Quero-te só para mim durante duas semanas, quero passar o dia inteiro de pijama ou a andar de bicicleta, quero andar de mão dada no silêncio, quero rir com as nossas tolices… Quero amar-te simplesmente. Adoro-te porque és imperfeitamente perfeito e me fazes sentir pequenina no teu abraço :)