— Olá Filipe! O qu’é que estás aqui a fazer?
— Oh, está muito calor em minha casa. Não conseguia dormir, então vim para aqui deitar-me a ver as estrelas…
— Ah, mas sabes que a minha mãe é que não vai gostar muito…
— Porquê?
— Porque estamos a pisar a relva dela — explicou a Bia com riso malando e enquanto se deitava a seu lado — as vezes acho qu’ela gosta mais do jardim do que de pessoas!
E prolongando o riso malandro dela, o Filipe não pode deixar de a picar:
—Pois, então se forem pessoas como tu, eu também preferia jardins!
— Epa és mesmo parvo, olha eu vou mas’é dizer a minha mãe que lhe estas aqui a estragar o jardim, nem sei porque é que ainda te aturo!! Parvo! — Foi a resposta da Bia, ao mesmo tempo que se começava a levantar.
O céu era um manto preto salpicado de pequenas e brilhantes luzes estreladas, que do alto da sua pequenez, contra a imensidão negra tentavam gritar: “Olha para mim, estou aqui!”. Podia ficar a noite toda a contemplá-las, como se estivesse enfeitiçado pelas suas vozes inaudíveis, mas mais do que gostar de ver as estrelas, gostava de implicar com a Bia. Ela era mais nova do que ele, mas nos últimos anos tinha crescido tanto, tinha “dado um pulo” como a sua mãe costumava dizer, e agora estava mais alta e…bonita…
— O que é que eu estou para aqui a pensar?! — Ouviu-se dizer, enquanto reparava que a ela já ia a meio caminho de casa — Espera!! Onde é que vais?? Eu ia-te dizer onde estáva a Cassiopeia…
O nome da constelação fê-la parar. Ele sabia perfeitamente que ela adorava saber o nome das estrelas. Porque é que ele conseguia sempre o que queria?? Isso Irritava-a, mas não lhe conseguia dizer que não…
— A Cassiopeia… — Os seus lábios falaram por vontade própria, ela já não queria estar ali! Ou queria? Ele estava sempre a tentar chateá-la e a maior parte das vezes conseguia, porque é que depois tinha de ser tão querido? Bem, mas podia ser que ele não a tivesse ouvid…
Continua…